quarta-feira, agosto 8

Escavacar o serviço público

Valha-nos a abertura das boutiques da saúde nos supermercados. Ainda acabarão por entrar na rede de referenciação pre-hospitalar para além do garantido acordo com a ADSE. As cenas lamentáveis das clinicas dentárias vistas ontem nos telejornais ilustram bem no que vai dar a comercialização do sector. link
A receita é bem conhecida: escavacar o serviço público, desvalorizar as profissões, privatizar o ensino superior, lançar hordas de profissionais no mercado, proliferar rankings e ratings patetas comparando alhos com bugalhos, fomentar a ideia de que a prestação de cuidados se esgota numa mera prestação de serviço que só beneficia com concorrência desbragada, caluniar os profissionais, dar a ideia que são todos uma chusma de vigaros e vendidos, contar a história da carochinha de um imenso mar de desperdício e de corrupção, abrindo caminho às consultoras amigas para rescrever a história do sistema de saúde.
Esta rapaziada não resistirá a uma oposição política esclarecida e interventiva. Talvez esteja mais próximo do que distante o fim deste embuste ideocrático, quer dizer ideológico travestido de tecnocrático.
Olinda

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2 Comments:

Blogger e-pá! said...

'Escavacar' pode transmitir a ideia que Cavaco é um dos mentores desta destruição. Como temos observado não tem estofo, nem estatuto, para tal. É simplesmente um dos múltiplos cumplices que penosamente se 'arrastam' por aí.
Começam a ficar bem nítidos os instrumentos ('as armas') que estão disponíveis para defender o Estado Social...

10:55 da manhã  
Blogger DrFeelGood said...

Bastonário dos Médicos Dentistas pede “mão firme” contra grupo de clínicas que já tem historial de reclamações em Portugal
No início deste ano, Linda Rosa Gonçalves decidiu colocar um aparelho e uns implantes na clínica Vitaldent da Póvoa de Varzim. Foi vista por um “assistente” que lhe apresentou um orçamento superior a cinco mil euros e contratou um crédito para poder pagar os tratamentos. Meio ano depois, a clínica da Póvoa de Varzim encerrou e ontem Linda Rosa, que já está a pagar 112 euros por mês pelo empréstimo, era uma das dezenas de pessoas aglomeradas nas instalações da Vitaldent dos Clérigos, no Porto, na tentativa de serem ressarcidas. Na unidade dos Clérigos estavam igualmente clientes da Vitaldent da Maia, que também fechou sem aviso prévio, supostamente devido à crise. Todos temem agora que a clínica do Porto acabe por encerrar, deixandoos sem tratamento e sem dinheiro.
Face ao avolumar de reclamações, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) aconselhou ontem os queixosos a interporem acções ou a fazerem queixa ao Ministério Público, porque o que está em causa são “relações contratuais privadas”, uma vez que se trata de “uma rede que funciona em regime de A ERS recebeu 25 reclamações contra a Vitaldent dos Clérigos, mas não adiantou o número de queixas relativas aos estabelecimentos a nível nacional (e são cerca de três dezenas). Dados anteriormente fornecidos ao PÚBLICO pela ERS indicam que, entre 2008 e meados de 2011, a reguladora recebeu 167 reclamações contra 17 das 33 clínicas Vitaldent nessa data a funcionar em Portugal.
Desde 1999 no país, esta cadeia internacional é também uma velha conhecida do bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas OMD), Monteiro da Silva, que há duas semanas apresentou na Procuradoria-Geral da República uma denúncia por exercício ilegal da profissão e usurpação de funções e já instaurou “vários processo disciplinares” contra profissionais deste grupo “por má prática”. A OMD não pode ir mais longe. “A maior parte das denúncias prende-se com o funcionamento estrutural das clínicas. Os doentes dizem-se burlados, fazem créditos bancários e os tratamentos não têm seguimento. As entidades que supervisionam estes estabelecimentos têm de tomar medidas”, defende. Um responsável da Vitaldent de Gondomar fez questão de sublinhar que apenas cerca de 50% clínicas do grupo são franchisadas, admitindo que algumas das que pertencem “à rede” “não funcionam muito bem”. “As franchisadas funcionam muito bem”, diz.

Da Vitaldent não há, para já, informações sobre o que vai acontecer aos clientes. Depois de anteontem ter garantido que os utentes da Maia e Póvoa terão os tratamentos assegurados, o director da clínica dos Clérigos foi para Lisboa e não esteve contactável. A medicina dentária é uma das especialidades com maior número de reclamações: de 2010 até hoje, a ERS recebeu 1888 queixas.

JP 07.08.12

9:46 da tarde  

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